sexta-feira, 22 de novembro de 2013

MAPFRE vai à procura de maior quota de mercado em Portugal

A MAPFRE vai reforçar o investimento na notoriedade da marca e partir à conquista de quota de mercado, sem que isso implique a concretização de aquisições no que será o início de uma nova fase da operação portuguesa.
Dou-lhe conta da entrevista que António Belo, administrador-delegado da MAPFRE em Portugal, concedeu ao OJE.
Uma MAPFRE Portugal que continue a a crescer acima do mercado e a correção da fraca rentabilidade do ramo automóvel e dos acidentes de trabalho, são os desejos do responsável máximo pela multinacional espanhola em terras lusas.

O que vai mudar nos próximos anos na operação da MAPFRE em Portugal?

Vamos manter o atual alinhamento e desenvolver a operação no mercado português. Isso faz-se com investimento e é o que estamos determinados a levar à prática. Somos das poucas operações no mercado que se tem desenvolvido de forma exclusivamente orgânica. As principais seguradoras a operar em Portugal cresceram suportadas em lógicas de fusão e de aquisição. No nosso caso, apesar de termos estudado várias operações que não se concretizaram, entendemos que estão reunidas condições que nos podem permitir ter um desenvolvimento mais rápido nos próximos tempos, sem aquisições, apesar do contexto económico ser desfavorável. Isso passa por investir em várias áreas, desde logo na comunicação e no fortalecimento da marca. Vamos dedicar mais recursos ao reforço da marca MAPFRE em Portugal. Temos um plano de negócio para os próximos anos que consideramos bastante ambicioso, assente no fortalecimento da nossa presença territorial e numa maior proximidade aos mediadores e clientes. Por razões de reorganização do nosso grupo, hoje estamos bastante mais próximos da nossa estrutura em Espanha e podemos retirar daí sinergias importantes que nos ajudem a alavancar a operação em Portugal. As relações entre os dois países são intensas, tendem a sê-lo ainda mais e devemos aproveitar esse fenómeno. O investimento português em Espanha tem aumentado e é conhecida a importância do investimento espanhol em Portugal.

Dê-me um exemplo do que a MAPFRE faz bem em Espanha e que aqui ainda não faz.

No negócio de empresas a, MAPFRE tem uma operação em Espanha bastante desenvolvida e é líder de mercado. Tem um conjunto de soluções e uma lógica de funcionamento que nos pode beneficiar se for aplicada em Portugal, ajustada às particularidades do mercado português.

Faz sentido olhar para o mercado segurador do ponto de vista ibérico?

Salvaguardando as particularidades de cada um dos mercados, podem reunir-se um conjunto de economias de escala, tanto na perspetiva da distribuição, como das seguradoras. E isso está a acontecer de forma cada vez mais evidente. As principais multinacionais estão a assumir essa estratégia. Hoje, para conseguirmos continuar no mercado com a competitividade que o cliente exige, temos de encontrar mecanismos que nos permitam atingir níveis de eficiência que de outra forma não são possíveis de conseguir.

Como é que a MAPFRE Espanha olha atualmente para a operação portuguesa?

Como uma operação que tem respondido de forma muito efetiva aos desafios que lhe foram colocados e que fundamentalmente eram dois: consecutivamente assumir um posicionamento de melhor rentabilidade e maior crescimento face á média do mercado português. No último ano a situação alterou-se, a dificuldade do setor ganhou maior evidência e, por isso, decidimos aproveitar o processo de reorganização do grupo para fortalecer a nossa presença em Portugal.

A aposta, nos últimos anos, na América Latina poderá ter desviado as atenções da MAPFRE de mercados mais diminutos, como o português?


O grupo está num processo de transformação importante. A MAPFRE quer consolidar o papel de "player" global que começou a desenvolver há alguns anos. Éramos uma seguradora espanhola com presença internacional e neste momento assumimo-nos como uma multinacional com sede em Madrid. Esta importante evolução implica um processo de diversificação da nossa presença em várias geografias, que foi conseguido ao longo dos últimos anos. Os volumes de negócio que hoje gerimos já evidenciam esse posicionamento. Somos uma referência mundial no seguro directo, na assistência e no resseguro. O resultado final é a soma das partes e Portugal continua a oferecer o seu contributo. É claro que o mercado nacional é pequeno, quando comparado com outras economias.

Crescer por aquisições em Portugal esta fora de questão?

A MAPFRE nunca vai rejeitar a possibilidade de poder estudar qualquer oportunidade que surja no mercado português. Neste momento estamos a assistir a uma operação importante, que é a venda da Caixa Seguros, e nenhum dos investidores tradicionais nesta área se mostrou muito disponível para entrar numa operação desta envergadura. Isso quer dizer alguma coisa.

Que impacto poderá ter a eventual entrada de um grupo chinês ou americano no mercado segurador nacional?


Teremos de aguardar para ver. Já existem em Portugal operadores americanos e, pelo que temos conhecimento, também o grupo chinês tem uma experiência importante no setor segurador. Seria muito importante para o país a entrada desse investimento externo. Mas do ponto de vista da operação de seguros, o impacto dependeria muito da estratégia que os investidores tivessem para o desenvolvimento da operação em Portugal.

O mercado vai ficar diferente?

Depende da estratégia que for seguida pelo comprador. Tenho muita dificuldade em perceber que alguma entidade vá fazer um investimento desta dimensão sem exigir um determinado retorno. Estamos a falar de capitais privados e necessariamente tem de acontecer qualquer coisa. Se há algum operador com capacidade para introduzir alguns mecanismos de correção que o mercado necessita, o líder poderá fazê-lo melhor que ninguém. A atual gestão da Caixa Seguros tem feito bem esse papel, apesar das dificuldades no equilíbrio da exploração do setor em Portugal.


Como se melhora a rentabilidade dos ramos automóvel e acidentes de trabalho?

Com disciplina. O setor segurador tem sido aquele que mais tem feito repercutir no cliente os seus ganhos de eficiência, mas em muitas situações tem sido ultrapassado o limite do razoável. No ramo automóvel praticam-se hoje preços que se praticaram há mais de uma década. No entanto, como consequência da própria crise, este ramo beneficia com uma menor exposição ao risco do parque automóvel nacional. Apesar disso, o negócio não é sustentável e necessita de alguma inflexão. Nos acidentes de trabalho há uma preocupação bastante diferente e que tem de levar as seguradoras a mudar completamente o seu posicionamento. Os rácios combinados são preocupantes e insustentáveis. Ainda assim, a MAPFRE tem tido um comportamento diferente do mercado. Com resultados negativos nos últimos dois anos, apresenta rácios significativamente melhores que os do mercado.

E qual será a evolução expectável do ramo?

Espero que a intervenção do Instituto de Seguros de Portugal surta efeitos e que os seguradores assumam um posicionamento diferente. Atingimos patamares insustentáveis e as seguradoras, de forma generalizada, terão de começar a iniciar um caminho de correção.

Mas as empresas estão em dificuldades e não será fácil falar-lhes de aumentos de prémios por estes dias.


A correção do ramo acidentes de trabalho é fundamental para as empresas, para os mediadores e para as seguradoras. Todos têm a ganhar com isso. Se o ramo continuar com estes resultados de exploração, as empresas não podem beneficiar do serviço que seria desejável para o equilíbrio das suas próprias organizações.

Que papel terá o corretor de seguros nesse processo?

O corretor tem de estar muito sensibilizado para a necessidade de introduzir mecanismos de correção neste negócio. Creio que estão a ganhar esta percepção. É fundamental alterar as variáveis económicas que suportam este ramo.

E que papel está reservado à mediação de seguros nos próximos anos, tendo em conta a evolução do mundo digital na vida dos cidadãos?

A mediação continua a ter uma presença muito forte na distribuição de seguros e na MAPFRE também. É o nosso principal canal de distribuição. O mediador tem um papel importante pela relação de confiança e pelo conhecimento que tem do cliente. Mais do que qualquer outro canal. Mas obviamente a mediação tem de evoluir, passando a estar mais presente no mundo digital. O nosso plano para o futuro também passa por aí. Queremos fortalecer a nossa relação com a mediação, nomeadamente pela via digital, transportando experiências já realizadas pelo nosso grupo noutros países.

Em Espanha, a MAPFRE tem uma marca para o canal direto. Também vai replicar essa experiência em Portugal?


Não é essa a nossa intenção.

Tem uma meta de crescimento de quota de mercado nesse plano?

Nós temos um plano para os próximos cinco anos com um objetivo de crescimento ambicioso, substancialmente maior do que aquele que foi conseguido nos últimos anos.

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